REPORTAGENS

     Responsabilidade Sócioambiental
A adoção de boas práticas de responsabilidade social e ambiental não é mais questão de boa intenção, mas de competitividade e sobrevivência

Por Mirian Blanco

Taxas de juros mais atrativas na captação de recursos, maior poder de atratividade e retenção de talentos, marca fortalecida entre clientes e mercado, empreendimentos mais atualizados e valorizados. Sim, esses são os ganhos da responsabilidade socioambiental. Que a sustentabilidade corporativa está diretamente ligada ao respeito ao ser humano e ao meio ambiente, não há dúvidas. Mas falemos do terceiro item desse tripé, negócios: construtoras e incorporadoras socialmente irresponsáveis serão economicamente inviáveis. Em pouco tempo. A seguir, conheça os ganhos da responsabilidade social e ambiental e como elas podem assegurar o crescimento e desenvolvimento do negócio no longo prazo.

Valorização da marca

Ações comprometidas com valores sociais e relativos ao meio ambiente são fortes elementos de valorização da marca e da reputação da incorporadora/construtora frente a diversos públicos. "A adoção da responsabilidade socioambiental proporciona um grande valor agregado à imagem corporativa da empresa que pode ser comunicado aos clientes, colaboradores, sociedade e demais partes interessadas", diz Danusa Nascimento, consultora em sustentabilidade corporativa do CTE (Centro de Tecnologia de Edificações).
Da valorização da marca, derivam outros ganhos diretos, como fidelização de contratantes, que, atualmente, exige rigor acentuado por conta da redução do número de obras. "Em igualdade de condições, o cliente, numa licitação ou concorrência, vai preferir uma empresa com comportamento ético do que outra sem esse diferencial", diz Hugo Marques da Rosa, presidente da Método Construtora.
Na análise de Teodomiro Diniz Camargo, presidente da Câmara da Indústria da Construção da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), tudo se trata de confiança, matéria-prima de um setor que não vende produtos acabados, mas, sim, a promessa de produção. "Um dos itens que gera confiança na empresa e credibilidade no negócio é a forma como ela encara as relações com a sociedade e ambiente", explica. A Fiemg, por meio da Câmara de Construção Civil, incorporou a construção sustentável como referência na formação dos filiados.

Atração de Profissionais

Outro fator competitivo reforçado pela responsabilidade socioambiental é o aumento da capacidade da empresa em atrair e reter talentos. Segundo Hamilton Franck, presidente do Sistema Sinduscon-PR/Seconci, esse tem sido, na experiência da entidade, o principal objetivo das pequenas e médias construtoras ao adotar as boas práticas em sua gestão empresarial. "As empresas com visão de longo prazo implantam ações de responsabilidade social porque enxergam nisso uma fidelização de seus colaboradores."
Hugo Rosa, da Método, também identifica essa preferência. "Em geral, as pessoas gostam de trabalhar em empresas éticas, e responsabilidade socioambiental não é nada a mais do que isso." Para ele, todos esses fatores de melhoria nos relacionamentos da construtora reduzem riscos de negócio. "Quando a empresa tem uma relação ética com seus fornecedores, com a comunidade, com seus clientes internos, dificulta ações antiéticas como fraudes, corrupção, desvios de comportamento e financeiros."

Facilidade no crédito

Há sinais claros no mercado que apontam para que a concessão de crédito e a captação de recursos sejam cada vez mais pautadas por exigências socioambientais. Muitos fundos de investimento e o próprio Banco Mundial estabelecem critérios mínimos relativos à sustentabilidade para concessão de crédito. No financiamento à construção, o Banco Real já oferece linhas diferenciadas para construtoras que tenham projetos socioambientais e a Caixa Econômica Federal trabalha no desenvolvimento de um selo verde para avaliar edificações.
Para as empresas de capital aberto, a Bovespa criou o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), que atende a uma tendência mundial de investidores cada vez mais interessados em empresas socialmente responsáveis e rentáveis para aplicar seus recursos. A consultora Danusa Nascimento aponta ainda que a Vale do Rio Doce ou a Petrobras (principais contratantes do País) exigem que seus fornecedores, como construtoras e prestadores de serviços, não só tenham as certificações ISO 9000 e ISO 14000 como também evidenciem suas práticas de responsabilidade social. Imagina-se que em médio prazo a exigência passe para o setor público.
No BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), toda operação de financiamento a empreendimento construtivo passa por uma checagem sobre o impacto ambiental do projeto e as práticas socioambientais da empresa responsável. O banco também financia retrofits voltados à economia energética. "Oferecemos condições melhores em taxas de juros, nível de participação e prazos para os projetos socioambientais", conta Eduardo Bandeira de Mello, coordenador do departamento de meio ambiente do banco. "Não tenho a menor dúvida de que a sustentabilidade empresarial será uma exigência do próprio mercado imobiliário, em curto tempo. Em escritórios, hoje já é uma realidade", diz.

Produtos Diferenciados

A adoção de critérios socioambientais nas construtoras também tem resultado em produtos mais valorizados no mercado. "Exemplo disso é o valor do aluguel de edifícios de escritórios certificados pelo Green Building (Leed), que tem se situado em valores 15% maior que edifícios concorrentes de mesmo perfil", comenta Danusa. Em geral, edifícios com soluções para redução no consumo de água e energia são mais valorizados e têm taxas menores de condomínios. Na Europa, edifícios construídos com os conceitos de sustentabilidade resultaram numa ocupação em torno de 3% a 4% maior, aluguel de 3% a 4% mais elevado e, na França, taxas de retorno de investimento de 10% pela rentabilidade do imóvel.
"Um outro aspecto a ressaltar nas vantagens competitivas é o crescimento da demanda por produtos e processos sustentáveis. Se uma empresa tem essas preocupações, certamente sairá na frente da concorrência em pouco tempo", diz Carlos Eduardo de Almeida, presidente da CTCS (Câmara Técnica de Construção Sustentável) do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável). Segundo ele, "no longo prazo, a sustentabilidade será, inclusive, determinante na sobrevivência das empresas".

Como adotar a responsabilidade empresarial?

Recentemente, a Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) lançou o Guia da Sustentabilidade, um manual básico que ajuda empresas de qualquer porte a balizar seus projetos sob os conceitos da responsabilidade socioambiental. O guia pode ser acessado por meio do endereço www.fiemg.com.br/cidadania, na seção "conhecimento empresarial".
Em geral, um programa de sustentabilidade começa na alta direção da empresa, que define esse conceito como um valor estratégico e o desdobra para a gestão corporativa e para os empreendimentos.
Danusa Nascimento, consultora em sustentabilidade corporativa do CTE (Centro de Tecnologia de Edificações), recomenda os seguintes passos para adoção da responsabilidade socioambiental:

  • Diagnostique como a empresa está posicionada em termos de boas práticas de sustentabilidade, analisando estratégia, processos de trabalho, cultura interna e estrutura de gestão.

  • Eleja as prioridades da empresa e elabore um plano de ação que envolva os processos corporativos e produtos com questões relativas a projetos e obras, e a aspectos ambientais de empreendimentos, de responsabilidade social, educação e sensibilização dos colaboradores.
  • Implante o programa e não se esqueça de monitorá-lo e avaliá-lo de forma a corrigir desvios e promover ações de melhoria. Nessa fase, informe os públicos de interesse que a empresa está em um caminho sustentável.

Após consolidação do escopo inicial, redefina uma nova fase, com novas prioridades mais aprimoradas, e a implante, monitorando-a e divulgando-a.
Defina e implante um escopo avançado da sustentabilidade para atingir as diretrizes contidas nos referenciais de boas práticas socioambientais existentes no mercado.

Fonte : revista.construcaomercado.com.br
Postado por Administração Sustentável às 00:08
  
Comentários:
Essa reportagem mostra alguns pontos relevantes a serem analisados, como a valorização da marca que agrega grande valor a imagem das empresas, alguns projetos que ja vem incluindo a questao da sustentabilidade, como o ISE criado pela bovespa, a valorizaçaõ no mercado dos produtos vindos dos criterios socio-ambientais . A reportagem conclui-se definindo algumas maneiras de adoção da responsabilidade empresarial .



Sustentabilidade Empresarial: custo extra ou impulso nos negócios?

Tendência
Especialistas
explicam o que e
como as empresas
“cinzas” devem
fazer para se
tornarem “verdes”
e ecologicamente
corretas
Ana Luiza Panazzolo  
Para que uma marca se destaque
no mercado, ela deve apresentar
diferenciais em relação à concorrência.
Atualmente, ser sustentável é uma ótima
opção para ter destaque e chamar a
atenção do consumidor. Segundo Fabiano
Facó, profissional em sustentabilidade,
graduando no MBA de Gestão Ambiental
e Práticas de Sustentabilidade pelo IMT
(Instituto Mauá de Tecnologia) e dono
do blog www.habitanteverde.com.br,
hoje existe um público consumidor mais
consciente e que escolhe sua compra
considerando e ponderando além dos
aspectos como preço e qualidade, como
a empresa se apresenta em relação ao
tema da sustentabilidade.
“Uma boa parte deles está disposta
a pagar um pouco mais por produtos
de Empresas Verdes. Tal afi rmação
procede ao percebemos que várias
dessas empresas estão priorizando
e direcionando suas propagandas e
publicidades com mensagens ligadas ao
meio ambiente, sustentabilidade e aos 5
Rs (Reutilizar, Reciclar, Reduzir, Repensar
e Recusar). Com isso, mostram aos seus
clientes e consumidores o seu diferencial
e compromisso com o meio ambiente
inteiro”, afi rma.
Para Facó, as empresas que conseguem
comunicar ao seu público-alvo sobre
como estão transformando os seus
processos de produção, seus produtos
e seus investimentos
na competência da
sustentabilidade terão
claramente identificado
seu diferencial em relação
à concorrência. Porém,
ele afirma que sozinha a
sustentabilidade não será
um diferencial. “A sustentabilidade só
terá sucesso se for acompanhada de
uma boa e lucrativa gestão financeira
e econômica, complementando-se com
ações de âmbito social realizadas pela
empresa”, comenta.
As empresas demoraram quase dez
anos para aderirem mais integralmente
o paradigma da sustentabilidade. Isso
aconteceu quando o economista John
Elkington propôs uma nova forma de
ver a questão por meio do conceito do
Triple Bottom Line, que integra as três
dimensões – o economicamente viável,
o socialmente justo e o ambientalmente
equilibrado. De lá pra cá a questão vem
ganhando força e o assunto passou
a permear os vários segmentos da
sociedade.
“As empresas estão, cada uma ao seu
tempo e grau de maturidade, tendo de
lidar com este tema por diversas forças
e influências.” Fabiano Facó

TENDÊNCIA

Bernadete Ângelo de Almeida,
professora de pós-graduação e
graduação da ESPM-Rio, com atuação
nos cursos de CSocial e ADM e
coordenadora do ESPM Social no Rio,
explica que com o tempo o que mudou
foi a visibilidade que a questão da
sustentabilidade passou a ter. “Nesta
perspectiva vejo a premiação pelo
Oscar do documentário ‘A verdade
Inconveniente’, como um divisor de
águas. Se os analistas de mercado
passam a recomendar as ações de uma
empresa com base em indicadores
de sustentabilidade; se revistas
especializadas em negócios estabelecem
rankings, premiando e conferindo
visibilidade às iniciativas socioambientais
das empresas; se os talentos passam
a querer trabalhar nestas empresas; e,
sobretudo, se a sustentabilidade passa a
ser considerada pela sociedade como um
atributo de valor e as empresas passam
a criar vantagens competitivas ao ser
mais sustentáveis, este passa a ser um
caminho a seguir”, arma.
Visando aos diversos pontos positivos
que uma marca ecologicamente
correta possui diante do mercado e
de seus consumidores, o conceito de
sustentabilidade ganha cada vez mais
espaço na mente das empresas, sejam
elas de grande ou pequeno porte. Na
realidade, segundo Facó, na mente e no
DNA. “As empresas estão, cada uma ao
seu tempo e grau de maturidade, tendo
de lidar com este tema por diversas
forças e inuências. Elas podem ser
de âmbito legal para que estejam em
conformidades com as Leis, por força
de seus acionistas, por inuência da
concorrência, por estímulo dos seus
clientes ou por uma visão de longo
prazo, que indica que as empresas que
não possuírem essa competência no seu
negócio não sobreviverão”, comenta
.

CUSTO OU INVESTIMENTO ?



   Artesanato Ecológico
Freirogeriense incrementa a renda com artesanato em bambu
Vagner Molin

  Transformar matéria-prima da natureza em peças e artesanato.
Esse é o trabalho que o agricultor Gerson Mauro Fertig realiza com bambu. Com apenas seis anos, ele aprendeu com seu pai a profissão de carpinteiro e adquiriu habilidade para trabalhar com madeira, o que colaborou e o transformou em um artesão de mão cheia. Como é difícil sobreviver somente da agricultura, comentou com a esposa que teriam que fazer algo diferente, encontrar uma maneira de obter renda extra para incrementar as finanças. Pois a família possui dois hectares de terra, de onde ele, sua esposa e os três filhos tiram o sustento com produção de leite e mel.
O fato de o bambu ser um produto ecológico incentivou o carpinteiro a fazer artesanato. No entanto, Gerson conta que além da necessidade, a curiosidade foi o que o levou a confeccionar as peças. Ele revela que tudo começou com o cultivo de produtos orgânicos. Depois que participou de um curso onde aprendeu a manusear bambu, Gerson teve a ideia de fazer artesanato e comercializar. Em um de seus testes descobriu que o própolis substitui o verniz, e pode ser utilizado para impermeabilizar as peças.
Para adquirir habilidade, Gerson recorda que começou fazendo cortes e copos, e assim passou a produzir as peças, pedidos foram surgindo e seu trabalho começou a ser conhecido nas exposições em eventos locais.
Mas o talento também exige criatividade e desafios. Até um caminhão de bombeiros Gerson auxiliou seu filho Whillyam Freddy Fertig, estudante da 7ª série do Ensino Fundamental, a produzir. Ele conta que deveria ser simples, mas o invento acabou sendo escolhido o melhor da região em um concurso sobre materiais reciclados.
Para visitantes que prestigiam as festas realizadas em Frei Rogério, uma das peças que mais chama atenção é a réplica do Sino da Paz, criada por Gerson. Ele lembra que também foi por curiosidade, e mesmo sendo descendente de alemão, reproduziu o monumento histórico em bambu. "Trabalhei uns cinco dias para conseguir fazer uma réplica perfeita. Os turistas se encantam com o trabalho. O que interessa é a divulgação, pois a cada evento vêm pessoas diferentes", observou Gerson, complementando que as peças de bambu estão em alta no mercado. Para finalizar, o artesão afirma que a Colônia Nipônica deve ser motivo de orgulho, pois é através dela que Frei Rogério se tornou conhecido, e porque abriga o monumento de grande valor cultural, que prega a paz mundial. "Tudo que lembra a paz é algo gigantesco. O trabalho dos japoneses, com resgate da cultura é fantástico.", analisa Gerson.
O artesão revela que sente orgulho de fazer esse trabalho. "É gratificante, tem tudo a ver com natureza. É o que estou vivendo, pois faz três anos que não utilizo agrotóxico. Nas pequenas propriedades poder trabalhar sem agrotóxico é um privilégio que poucas pessoas têm", argumenta o agricultor, destacando que o homem do campo que vive em pequenas propriedades precisa buscar novas alternativas de renda.