domingo, 21 de novembro de 2010

Sustentabilidade e Geração de Valor

José Eduardo Mendonça

Desde os protestos dos hippies no começo dos anos 1970 até recentemente, a discussão ambiental ficou em banho-maria – pelo menos aos olhos do grande público. Catástrofes naturais e desastres causados por empresas, além de alterações econômicas e geopolíticas, e o avanço de pesquisas, trouxeram o tema à baila. É difícil ver, hoje, um noticiário de TV em que não haja uma notícia sobre o meio ambiente. Assim como não há grande empresa que não alardeie sua responsabilidade social, mesmo que isso não passe de um gesto de marketing.

Apenas agora começam a surgir no Brasil publicações que dizem respeito à sobrevivência de empresas, o que elas devem fazer para enfrentar esta nova conjuntura e, principalmente, como gerar valor a partir de princípios de sustentabilidade. A coletânea organizada por David Zylbersztajn e Clarissa Lins, com autores de competência e autoridade incontestáveis, é uma saudável contribuição, principalmente por ser quase que um guia prático para gestores e administradores. O desenvolvimento não está descolado da sustentabilidade, e as companhias que não estiverem atentas a isso correm o risco de serem varridas do mapa, diz Roger Agnelli, diretor-presidente da Vale desde 2001, no prefácio.

Agnelli aponta a escassez de literatura sobre a questão no país e cita de saída um exemplo negativo de conduta, o da indústria automobilística, que proclama ter em seus veículos com tapetes de materiais reciclados, mas não comunica ao público que fabrica hoje carros menos poluidores, por desconhecerem padrões de gestão ambiental, ou por julgarem que os consumidores não estão conscientes do problema.

Mas, tanto no caso deste setor, como em todos os outros cujas ações podem ameaçar o país e por extensão o planeta, não há um conjunto de políticas públicas “contundentes” e mecanismos de implantação e fiscalização. Reduzir os impostos para que mais carros sejam vendidos como meio de minimizar a crise econômica parece uma atitude irresponsável, se não houver, como não houve, uma contrapartida de exigir deles uma redução de emissão de gases de efeito estufa. “O papel indutor do estado é insubstituível e absolutamente necessário”, escreve o executivo, num momento em que se fragilizam os argumentos de economistas e políticos conservadores contra a intervenção exagerada do estado na economia.

Israel Klabin , presidente da Fundação Brasileira Para o Desenvolvimento Sustentável, observa também a necessidade de uma alteração do modelo econômico para que novos modelos de gestão possam ter êxito: “Repito que é na inclusão social que se fundamenta o novo mercado” – um fator, diz ele, do qual ainda se tem pouca consciência. Mas ele surgirá apenas, afirma, ecoando Agnelli, com a eliminação da “ineficácia dos modelos de governança das políticas públicas”. Esta ineficácia, segundo o cientista político Sérgio Abranches, é visível na questão energética brasileira, onde o país não tem um dilema – apenas dispõe de uma política inadequada para o setor. Zerar o desmatamento da Amazônia, principal desafio para reduzir nossas emissões de carbono, nem é apenas uma questão de política pública, mas de simples aplicação da lei.

As empresas que não repensarem suas estratégias de gestão de riscos poderão ser vítimas de um efeito bumerangue, no qual sua paralisia provocará como retorno sua perda de competitividade e sua possível eliminação dos mercados. “A alteração das preferências das pessoas tende a alterar o perfil da demanda com viés para produtos de baixo carbono”, afirma Abranches, o que no caso do Brasil pode ser mais um wishful thinking do que uma realidade já notável.

Em seu capítulo “O Valor Gerado Pela Sustentabilidade Corporativa”, o professor de administração da UFRJ, Celso Funcia Leme, cita uma dezena de pesquisas acadêmicas e estabelece a relação entre sustentabilidade corporativa e desempenho empresarial. A primeira se dá por um processo de inovação tecnológica ou gerencial. A segunda diz respeito ao aumento de receitas, decorrente da diferenciação de produtos e seu posicionamento no mercado. A terceira via é a do gerenciamento de riscos operacionais, e quarta forma é o acesso a fontes preferenciais de financiamento com a correspondente redução co custo do capital.

Chama atenção o fato de Jerson Kelman, ex-diretor da Agência de Energia Elétrica (Aneel), não ter mencionado em seu capítulo - “Agências Reguladoras e Responsabilidade Socioambiental” - o papel que o smart grid terá como fator determinante da distribuição inteligente dos recursos energéticos e ainda como fonte de dados que serão de imensa ajuda na aplicação da regulação do setor. De fato, a introdução destas novas tecnologias na grade energética do país anda a passos de tartaruga, com governo, empresas privadas e universidades tratando com baixa prioridade o que nos deixará mais uma vez atrasados no bonde da história.
Sustentabilidade e Geração de Valor
Sustentabilidade e Geração de Valor – A Transição Para o Século XXI
David Zylbersztajn e Clarissa Lins (organizadores)
Editora Campus - 208 pp.

Um comentário:

  1. " O livro ressalta os dilemas da Susentabilidade Corporativa no desenvolvimento empresarial, alem da importância da Sustentbilidade no âmbito empresarial."

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