LIVROS

Responsabilidade Corporativa - A Empresa Verde

Felipe Carneiro

“As companhias são uma força de mudança social, sem dúvida a mais poderosa de nossa época. E elas têm tudo a ganhar ao assumir esse papel”, diz em seu livro A Empresa Verde, lançado neste ano no Brasil pela editora Õte. Há mais de uma década à frente de projetos de sustentabilidade em companhias de setores tão diversos como bancos e construção civil, Élisabeth descreve a história da questão socioambiental desde o início da década de 80, quando as empresas se limitavam a promover ações filantrópicas.

Nos anos 90, começaram as práticas de ecoeficiência e divulgação de relatórios. Hoje, a autora comemora a chegada gradual do que chama de Responsabilidade Empresarial 2.0, que se caracteriza por três traços fundamentais. O primeiro e mais importante é a introdução do desenvolvimento sustentável no objetivo das companhias, o que significa uma mudança profunda na cultura de cada empresa. “Esse é o mais formidável desafio proposto à humanidade no início do século. Um desafio que nos pede, em primeiro lugar, que imaginemos o mundo em que queremos viver no futuro”, diz. Em Segundo lugar, vem a aproximação e a colaboração das corporações com ONGs.

Um exemplo surgiu quando a fabricante de bens de consumo Unilever percebeu que o bacalhau congelado que vendia estava acabando no mar. A solução foi buscar uma parceria com a organização ambientalista World Wildlife Fund (WWF), que a ajudou a desenvolver um projeto de pesca sustentável. Finalmente, o terceiro aspecto é a preocupação quase obsessiva em identificar o impacto ambiental e social de toda a cadeia produtiva, desde a extração das matérias-primas mais básicas até a maneira como o consumidor lida com o produto. É nesse novo contexto que Élisabeth quer ver o surgimento de uma nova maneira de avaliar as empresas: não apenas pelos lucros e pela qualidade da mercadoria mas também por sua relação com as pessoas e com o planeta.
Élisabeth Laville
Editora Õte
404 páginas



Comentário:
"O livro fala sobre a inserção das questões socioambientais nas empresas, mostrando um passo a passo desde a década de 90 ate os dias de hoje.

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Ecoeconomia - uma nova abordagem

Isabel A. Braga
A visibilidade do conceito “sustentabilidade”, os diversos alertas sobre a degradação do meio ambiente e a revisão da métrica do Produto Interno Bruto (PIB), a fim de mensurar a sustentabilidade ambiental e também o bem-estar social, formam um cenário favorável para que a ecoeconomia ganhe força.

Apesar de sua atualidade, os primeiros expoentes da ecoenomia surgiram há mais de 30 anos, quando o matemático e economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen (considerado o pai desta nova corrente) trabalhou para conciliar a economia e o meio ambiente.

Muitos teóricos que se ocuparam de questões sociais ou ambientais, além de Georgescu-Roegen, foram teimosamente ignorados pela economia tradicional durante décadas. Felizmente, alguns economistas continuaram insistindo no assunto em diferentes países. No Brasil, adeptos desta linha de pensamento ganham expressão na academia, no mercado de trabalho e na mídia – apesar de ainda serem minoria.

Fora dos corredores da universidade, o cenário também é mais favorável para se discutir a sustentabilidade e apresentar um novo olhar sobre a teoria econômica. O ecoeconomista Hugo Penteado, que ocupa o cargo de economista-chefe do Banco Real, do Grupo Santander Brasil, expõe abertamente suas ideias e críticas à economia tradicional no seu
blog e em seu livro “Ecoeconomia”.

Publicado em 2003, quando pouco se falava sobre “sustentabilidade” e quando se formavam as raízes para a adoção da sustentabilidade como modelo de negócios do Banco Real, o livro apresenta de maneira didática a economia ecológica e mantém-se atual até o dia de hoje – mesmo passados seis anos do seu lançamento.

Penteado não se atém a previsões terroristas e nem a estabelecer datas para futuros desastres ecológicos. Longe disso. Ele parte de análises sérias das fragilidades da teoria econômica tradicional, sem deixar de soar um alarme pela urgência em revisarmos as teorias econômicas e enfrentarmos as causas dos desastres socioambientais.

A economia tradicional é criticada pela ecoeconomia por marginalizar questões ambientais e se distanciar da realidade ao nosso redor - não mencionando, sequer, em muitos de seus livros, palavras como meio ambiente, recursos naturais e ecologia.

Ao contrário da economia do mainstream e das crenças presentes em discursos de diversos políticos e empresários, para a ecoeconomia o poder da tecnologia é limitado, as leis da física e da natureza dominam as leis econômicas (não o contrário) e a obsessão pelo crescimento econômico infinito (que é uma rota de colisão perigosa) deve ser abandonada.

Penteado mostra o inventário ambiental que tem se formado a partir do mito do crescimento infinito e afirma que “nem sempre o crescimento produz resultados socioambientais almejados e possui passivos ambientais totalmente ignorados – e nada desprezíveis”. Este extenso inventário vai desde a produção anual de mais de 50 milhões de automóveis à destruição de 95% dos manguezais italianos.

Para o autor, o paradigma atual imposto pela teoria econômica tem um limite – e esse pode estar mais próximo do que imaginamos. Uma restrição ambiental, ou um desastre ecológico, poderá causar a maior crise econômica de todas (e a mais insuperável), com conseqüências mais graves do que as do desemprego da grande depressão na década de 1930 e do surgimento da estagflação da década de 1970.

Diferentemente das crises passadas, a solução para esta crise que vivemos não deve ser mais “voltar a crescer a qualquer custo”. Os modelos econômicos devem incorporar a preocupação com a natureza e seus ecossistemas e ampliar o limite da nossa percepção – o que terá conseqüências práticas para o mundo à nossa volta.

“Ecoeconomia – uma nova abordagem” prepara o leitor para uma mudança que cedo ou tarde deve acontecer. E esta mudança -- que pode não ser apenas urgente, mas estar atrasada! - sugere uma cuidadosa transição, com mudanças culturais para padrões de consumo mais ecoeficientes, abandonando a idéia de crescer sempre e obtendo uma estabilidade - ou até um declínio - populacional.
Ecoeconomia - uma nova abordagem
Hugo Penteado
Editora Lazuli
2003


Comentário:


"O livro aborda o tema "Economia Ecológica", analisando a teoria econômica tradicional e falando de um tema pouco explorado na época de lançamento do livro: a sustentabilidade."


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A Natureza Como Limite da Economia

José Eduardo Mendonça
“Aristóteles fala em quatro tipos de causas. Todas elas explicam o que é uma coisa, para quê serve, como foi feita e porque foi feita. Acredito que os gregos nos deram esta visão de mundo e que hoje não podemos fazer uma única pergunta que já não tenha sido perguntada e respondida por Aristóteles e Platão.”

Assim disse, certa vez, em entrevista, o matemático, economista romeno Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994), dando uma mostra da origem da perquirição e da e humanidade que permeiam sua importante contribuição ao debate econômico atual. Ele foi deletado dos manuais de economia e da discussão acadêmica, em 1967, por seu colega americano Paul Samuelson, que um ano antes elogiara seu trabalho.

O motivo? Georgescu, um pensador extremamente original, e hoje reabilitado como fundador da economia ecológica, ousou destoar de seus colegas de ofício, mergulhados, então (como ainda o estão hoje), em uma visão de mundo determinada pela construção de um arcabouço teórico baseado na mecânica. Esta visão do sistema econômico fala da relação entre a produção e o consumo e pretende mostrar como circulam produtos, insumos e dinheiro entre empresas e família. É um sistema fechado e circular. “Fechado, pois não entra nada de novo e também não sai nada. E circular, pois pretende mostrar como circulam o dinheiro e os bens na economia. Serve, portanto, para a perpetuação de uma visão particular do processo econômico”, argumenta Andrei Cechin em seu brilhante trabalho.

Cechin, mestre em ciência ambiental pela USP e economista formado pela FEA-USP, retoma o pensamento de Georgescu, que enxergou, há seis décadas, a possibilidade de que economias nacionais pudessem ter de encolher, e não continuarem a se orientar por um crescimento contínuo, o que não seria sustentável. E isto vai frontalmente contra o paradigma reinante na economia, que “teve como importante sintoma o não reconhecimento dos fluxos de matéria e energia que entram e saem do processo econômico e muito menos o reconhecimento da diferença entre o que entra e o que sai deste processo”, lembra ele. Cechin observa que “a economia não é uma totalidade, mas, sim, um subsistema de um sistema maior, geralmente chamado de meio ambiente... Os economistas, ao focarem o fluxo circular monetário, ignoram o fluxo metabólico real. Ao contrário dos economistas, os biólogos jamais imaginaram um ser vivo como um sistema total, ou como uma máquina de moto-perpétuo”.

O autor é erudito e claro em suas formulações, e o livro merece e requer uma leitura muito atenta. Como seu orientador, o economista José Eli da Veiga, autor do importante
Mundo em Transe e de A Emergência Socioambiental, Cechin percebe que a utilização da metáfora mecânica como base para a economia clássica fez com que ela fosse tratada “como um sistema isolado, autocontido e a-histórico, não induzindo mudança qualitativa, nem sofrendo efeitos das mudanças qualitativas no ambiente”. O novo paradigma proposto por Georgescu e seguidores é examinado meio de esguelha e desconfiadamente pela maior parte dos economistas justamente porque pode desmascarar uma ilusão que conduziu séculos de desenvolvimento, mas que hoje de nada mais serve a não ser para interesses que dela se alimentam em prejuízo da humanidade.

Um importante discípulo de Georgescu, Herman Daly, é citado por Cechin ao sumarizar os ajustes necessários na política econômica para que a economia funcione de forma sustentável ambientalmente: 1. Transição demográfica dos bens, ou seja, taxas de produção iguais às taxas de depreciação, em níveis baixos. Isso significa estender a vida útil dos produtos. 2. Melhoras qualitativas e aumentos de eficiência, sem elevar a quantidade de materiais processados. 3. Banir o comércio livre enquanto coexistirem países que tentam internalizar os custos ambientais nas decisões econômicas e países que praticam preços inferiores por não pagarem os custos ambientais. 4. Mudar o alvo dos impostos de renda auferida por trabalhadores e empresas para o fluxo produtivo, de preferência no ponto em que os recursos são apropriados da biosfera.

Tarefas magníficas, considerados o empenho e o poder da resistência a elas. E, também, considerada uma necessária mudança de paradigma, que envolve uma reeducação em questões não compreendidas pela maior parte das pessoas, e o ajustamento do fosso epistemológico entre o que a economia clássica quer que acreditemos seja o real e o que o real significa de verdade. A leitura de trabalhos como o de Cechin deve ser incentivada e disseminada. Estimula, instiga e provoca, ajudando-nos a desmantelar mitos desnecessários e daninhos.
A Natureza Como Limite da Economia
A Natureza Como Limite da Economia – A Constribuição de Nicholas Georgescu-Roegen
André Cechin
Editora Senac São Paulo - 264 pp


Comentário:


"Este livro é de grande importância, pois fala da relação sustentabilidade-economia, mostrando seus paradigmas como, por exemplo, o do desenvolvimento sustentável e o de como usar desde artifício na dominação da economia."
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Sustentabilidade e Geração de Valor

José Eduardo Mendonça

Desde os protestos dos hippies no começo dos anos 1970 até recentemente, a discussão ambiental ficou em banho-maria – pelo menos aos olhos do grande público. Catástrofes naturais e desastres causados por empresas, além de alterações econômicas e geopolíticas, e o avanço de pesquisas, trouxeram o tema à baila. É difícil ver, hoje, um noticiário de TV em que não haja uma notícia sobre o meio ambiente. Assim como não há grande empresa que não alardeie sua responsabilidade social, mesmo que isso não passe de um gesto de marketing.

Apenas agora começam a surgir no Brasil publicações que dizem respeito à sobrevivência de empresas, o que elas devem fazer para enfrentar esta nova conjuntura e, principalmente, como gerar valor a partir de princípios de sustentabilidade. A coletânea organizada por David Zylbersztajn e Clarissa Lins, com autores de competência e autoridade incontestáveis, é uma saudável contribuição, principalmente por ser quase que um guia prático para gestores e administradores. O desenvolvimento não está descolado da sustentabilidade, e as companhias que não estiverem atentas a isso correm o risco de serem varridas do mapa, diz Roger Agnelli, diretor-presidente da Vale desde 2001, no prefácio.

Agnelli aponta a escassez de literatura sobre a questão no país e cita de saída um exemplo negativo de conduta, o da indústria automobilística, que proclama ter em seus veículos com tapetes de materiais reciclados, mas não comunica ao público que fabrica hoje carros menos poluidores, por desconhecerem padrões de gestão ambiental, ou por julgarem que os consumidores não estão conscientes do problema.

Mas, tanto no caso deste setor, como em todos os outros cujas ações podem ameaçar o país e por extensão o planeta, não há um conjunto de políticas públicas “contundentes” e mecanismos de implantação e fiscalização. Reduzir os impostos para que mais carros sejam vendidos como meio de minimizar a crise econômica parece uma atitude irresponsável, se não houver, como não houve, uma contrapartida de exigir deles uma redução de emissão de gases de efeito estufa. “O papel indutor do estado é insubstituível e absolutamente necessário”, escreve o executivo, num momento em que se fragilizam os argumentos de economistas e políticos conservadores contra a intervenção exagerada do estado na economia.

Israel Klabin , presidente da Fundação Brasileira Para o Desenvolvimento Sustentável, observa também a necessidade de uma alteração do modelo econômico para que novos modelos de gestão possam ter êxito: “Repito que é na inclusão social que se fundamenta o novo mercado” – um fator, diz ele, do qual ainda se tem pouca consciência. Mas ele surgirá apenas, afirma, ecoando Agnelli, com a eliminação da “ineficácia dos modelos de governança das políticas públicas”. Esta ineficácia, segundo o cientista político Sérgio Abranches, é visível na questão energética brasileira, onde o país não tem um dilema – apenas dispõe de uma política inadequada para o setor. Zerar o desmatamento da Amazônia, principal desafio para reduzir nossas emissões de carbono, nem é apenas uma questão de política pública, mas de simples aplicação da lei.

As empresas que não repensarem suas estratégias de gestão de riscos poderão ser vítimas de um efeito bumerangue, no qual sua paralisia provocará como retorno sua perda de competitividade e sua possível eliminação dos mercados. “A alteração das preferências das pessoas tende a alterar o perfil da demanda com viés para produtos de baixo carbono”, afirma Abranches, o que no caso do Brasil pode ser mais um wishful thinking do que uma realidade já notável.

Em seu capítulo “O Valor Gerado Pela Sustentabilidade Corporativa”, o professor de administração da UFRJ, Celso Funcia Leme, cita uma dezena de pesquisas acadêmicas e estabelece a relação entre sustentabilidade corporativa e desempenho empresarial. A primeira se dá por um processo de inovação tecnológica ou gerencial. A segunda diz respeito ao aumento de receitas, decorrente da diferenciação de produtos e seu posicionamento no mercado. A terceira via é a do gerenciamento de riscos operacionais, e quarta forma é o acesso a fontes preferenciais de financiamento com a correspondente redução co custo do capital.

Chama atenção o fato de Jerson Kelman, ex-diretor da Agência de Energia Elétrica (Aneel), não ter mencionado em seu capítulo - “Agências Reguladoras e Responsabilidade Socioambiental” - o papel que o smart grid terá como fator determinante da distribuição inteligente dos recursos energéticos e ainda como fonte de dados que serão de imensa ajuda na aplicação da regulação do setor. De fato, a introdução destas novas tecnologias na grade energética do país anda a passos de tartaruga, com governo, empresas privadas e universidades tratando com baixa prioridade o que nos deixará mais uma vez atrasados no bonde da história.
Sustentabilidade e Geração de Valor
Sustentabilidade e Geração de Valor – A Transição Para o Século XXI
David Zylbersztajn e Clarissa Lins (organizadores)
Editora Campus - 208 pp.


Comentário:


“ O livro ressalta os dilemas da Sustentabilidade Corporativa no desenvolvimento empresarial, alem da importância da Sustentabilidade no âmbito empresarial."


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A Criação - Como Salvar a Vida na Terra

José Eduardo Mendonça

"É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio"
Carlos Drummond de Andrade, A Flor e a Náusea

Quando eu era menino, o interesse pela natureza era algo perfeitamente óbvio –  tínhamos quintais, e neles formigas, minhocas, lesmas, borboletas, vagalumes, joaninhas e plantas, muitas plantas. Isso numa casa típica, nos anos 1950, pertinho do centro da cidade. Aprendíamos a proteger e a conservar a natureza, assim como a promover diversos experimentos com ela, como plantar tomates ou ficar olhando seres minúsculos em microscópios. A natureza era, antes de mais nada, uma fonte de inesgotável curiosidade e encantamento – e livros, como os de Rudyard Kipling, que escreveu a história de Mogli, o menino-lobo; Monteiro Lobato, com todas as traquinagens de crianças em um sítio, ou a série dos escoteiros em férias em diversos locais do país, de Francisco de Barros Júnior, só faziam aguçar este interesse.

Os quintais, hoje, são raros em uma cidade grande e a diversidade biológica deles encolheu enormemente. Os livros citados ainda existem, em sebos, mas ninguém mais os procura e não fazem parte do currículo escolar. E isso vale para todo o mundo, onde a cultura que prevaleceu foi a de “conquistar” a natureza e de nos mantermos afastados dos “bichinhos” e do “mato”, que passaram a ser ameaça para crianças que crescem atualmente em ambientes murados e protegidos. Então, como fazer para respeitar coisas que conhecemos apenas de segunda mão, através de documentários e caros livros de mesa de centro? De fato, como preservar aquilo que não faz mais parte de nosso cotidiano e de nosso estilo de vida, e considerado pela maioria como algo que existe, em algum lugar, mas não nos diz respeito?

Edward O. Wilson, um dos mais importantes biólogos do mundo, que passou a infância e a adolescência no então exuberante sul dos Estados Unidos, onde iniciou seus estudos sobre aquilo que se tornaria uma paixão e uma grande contribuição ao saber – as formigas –, tem uma chave. Ao descrever sobre a biologia como se contasse uma história, coalhada de curiosidades e de um ardor quase juvenil, ele nos aproxima do encantamento, num divertido passeio pela diversidade, pelo que ela representa e, num tom mais circunspecto, como a ameaçamos e como podemos colaborar para deter a destruição. A chave é a educação.

A forma como ele escreveu seu livro é, ela mesma, um fator de condução da leitura – uma longa carta, dividida em capítulos, a um pastor não nomeado, que interpreta literalmente a Sagrada Escritura cristã e, portanto, rejeita a ciência quando ela trata da evolução das espécies. “Sou um humanista secular”, diz ele. “Creio que a existência é aquilo que nós fazemos dela, como indivíduos. Não há garantia de vida após a morte, e céu e inferno são o que criamos para nós mesmos, aqui neste planeta”. Ele apela ao pastor para que haja um terreno comum entre ciência e religião na questão da conservação biológica. Obviamente, o apelo remete diretamente à cultura dos Estados Unidos, nas quais muitas escolas insistem em ignorar tudo que Charles Darwin revelou, ajudando a alienar milhões de pessoas da natureza por não conseguir perceber o valor que só é possível perceber através do modo mesmo que Darwin postulou – o método científico.

“Não é possível dar uma ideia adequada dos sentimentos superiores de deslumbramento, admiração e devoção que inundam e elevam a mente”. Quem escreveu isso não foi um pastor em êxtase com sua leitura do mundo, mas o próprio Darwin, em 1832, boquiaberto diante da beleza da floresta tropical brasileira. Wilson diz conhecer, no início de sua longa carta, os argumentos religiosos em favor da Criação. Mas quer exibir os seus, o que passa a fazer num relato fascinante do que a vida de cientista lhe revelou.

O caleidoscópio planetário ruma para o humanizado, o simplificado, o instável, diz Wilson. Mas temos de lembrar que há inúmeras microáreas naturais, e que um matinho brota resistente em meio ao concreto de um estacionamento. As criaturas minúsculas que se multiplicam em ambiente de recursos tão minguados, como ácaros, vermes e lagartas, são um último “bastião de resistência”, a “vanguarda da inevitável volta do planeta Terra para o verde e para o azul” – num retorno que se dará com a cooperação inteligente do homem ou após sua extinção pela ignorância e o descaso, mas que se dará.

Wilson nos conta que deve haver na Terra cerca de mil trilhões de formigas, e que elas pesam aproximadamente o mesmo que todos os 6.5 bilhões de seres humanos que habitam o planeta. “As pessoas precisam dos insetos para sobreviver, mas os insetos não precisam de nós”. E se toda a humanidade desaparecesse, não teríamos a extinção de uma única espécie de inseto, à exceção de três formas de piolhos que se aninham na cabeça e no corpo humano. Mas nós não vamos perecer em tal companhia, vamos?

O autor dedica alguns capítulos a educadores, sobre como ensinar a criação. Todos os conservacionistas com os quais discute, diz, concordam que a indiferença geral das pessoas em relação ao mundo vivo “resulta do fracasso do ensino introdutório da biologia”. Então, mãos à obra!

Saia de casa para observar a natureza e leve a família. Leia livros interessantes como este e ensine a seus filhos o que ele lhe ensinou. Informe-se se o currículo escolar de seus filhos dá atenção necessária e adequada à diversidade. Ficar em casa vendo pela televisão um urso branco sobre um pedaço de gelo pode ser um alerta de pessoas e grupos comprometidos, mas convenhamos, não vai servir para muita coisa.
 
Comentário:
 O livro de José Eduardo Mendonça destaca o quanto fomos criados longe da natureza e o quão importante ela é, ressaltando o fato de que devemos refazer esse vínculo com ela.