quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Responsabilidade Socioambiental

A adoção de boas práticas de responsabilidade social e ambiental não é mais questão de boa intenção, mas de competitividade e sobrevivência

Por Mirian Blanco


Olga Kushcheva/Shutterstock
Taxas de juros mais atrativas na captação de recursos, maior poder de atratividade e retenção de talentos, marca fortalecida entre clientes e mercado, empreendimentos mais atualizados e valorizados. Sim, esses são os ganhos da responsabilidade socioambiental. Que a sustentabilidade corporativa está diretamente ligada ao respeito ao ser humano e ao meio ambiente, não há dúvidas. Mas falemos do terceiro item desse tripé, negócios: construtoras e incorporadoras socialmente irresponsáveis serão economicamente inviáveis. Em pouco tempo. A seguir, conheça os ganhos da responsabilidade social e ambiental e como elas podem assegurar o crescimento e desenvolvimento do negócio no longo prazo.                                                                                  
Valorização da marca
Ações comprometidas com valores sociais e relativos ao meio ambiente são fortes elementos de valorização da marca e da reputação da incorporadora/construtora frente a diversos públicos. "A adoção da responsabilidade socioambiental proporciona um grande valor agregado à imagem corporativa da empresa que pode ser comunicado aos clientes, colaboradores, sociedade e demais partes interessadas", diz Danusa Nascimento, consultora em sustentabilidade corporativa do CTE (Centro de Tecnologia de Edificações).
Da valorização da marca, derivam outros ganhos diretos, como fidelização de contratantes, que, atualmente, exige rigor acentuado por conta da redução do número de obras. "Em igualdade de condições, o cliente, numa licitação ou concorrência, vai preferir uma empresa com comportamento ético do que outra sem esse diferencial", diz Hugo Marques da Rosa, presidente da Método Construtora.
Na análise de Teodomiro Diniz Camargo, presidente da Câmara da Indústria da Construção da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), tudo se trata de confiança, matéria-prima de um setor que não vende produtos acabados, mas, sim, a promessa de produção. "Um dos itens que gera confiança na empresa e credibilidade no negócio é a forma como ela encara as relações com a sociedade e ambiente", explica. A Fiemg, por meio da Câmara de Construção Civil, incorporou a construção sustentável como referência na formação dos filiados.
Atração de profissionais
Outro fator competitivo reforçado pela responsabilidade socioambiental é o aumento da capacidade da empresa em atrair e reter talentos. Segundo Hamilton Franck, presidente do Sistema Sinduscon-PR/Seconci, esse tem sido, na experiência da entidade, o principal objetivo das pequenas e médias construtoras ao adotar as boas práticas em sua gestão empresarial. "As empresas com visão de longo prazo implantam ações de responsabilidade social porque enxergam nisso uma fidelização de seus colaboradores."
Hugo Rosa, da Método, também identifica essa preferência. "Em geral, as pessoas gostam de trabalhar em empresas éticas, e responsabilidade socioambiental não é nada a mais do que isso." Para ele, todos esses fatores de melhoria nos relacionamentos da construtora reduzem riscos de negócio. "Quando a empresa tem uma relação ética com seus fornecedores, com a comunidade, com seus clientes internos, dificulta ações antiéticas como fraudes, corrupção, desvios de comportamento e financeiros."
Facilidade no crédito
Há sinais claros no mercado que apontam para que a concessão de crédito e a captação de recursos sejam cada vez mais pautadas por exigências socioambientais. Muitos fundos de investimento e o próprio Banco Mundial estabelecem critérios mínimos relativos à sustentabilidade para concessão de crédito. No financiamento à construção, o Banco Real já oferece linhas diferenciadas para construtoras que tenham projetos socioambientais e a Caixa Econômica Federal trabalha no desenvolvimento de um selo verde para avaliar edificações.
Para as empresas de capital aberto, a Bovespa criou o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), que atende a uma tendência mundial de investidores cada vez mais interessados em empresas socialmente responsáveis e rentáveis para aplicar seus recursos. A consultora Danusa Nascimento aponta ainda que a Vale do Rio Doce ou a Petrobras (principais contratantes do País) exigem que seus fornecedores, como construtoras e prestadores de serviços, não só tenham as certificações ISO 9000 e ISO 14000 como também evidenciem suas práticas de responsabilidade social. Imagina-se que em médio prazo a exigência passe para o setor público.
No BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), toda operação de financiamento a empreendimento construtivo passa por uma checagem sobre o impacto ambiental do projeto e as práticas socioambientais da empresa responsável. O banco também financia retrofits voltados à economia energética. "Oferecemos condições melhores em taxas de juros, nível de participação e prazos para os projetos socioambientais", conta Eduardo Bandeira de Mello, coordenador do departamento de meio ambiente do banco. "Não tenho a menor dúvida de que a sustentabilidade empresarial será uma exigência do próprio mercado imobiliário, em curto tempo. Em escritórios, hoje já é uma realidade", diz.
Produtos diferenciados
A adoção de critérios socioambientais nas construtoras também tem resultado em produtos mais valorizados no mercado. "Exemplo disso é o valor do aluguel de edifícios de escritórios certificados pelo Green Building (Leed), que tem se situado em valores 15% maior que edifícios concorrentes de mesmo perfil", comenta Danusa. Em geral, edifícios com soluções para redução no consumo de água e energia são mais valorizados e têm taxas menores de condomínios. Na Europa, edifícios construídos com os conceitos de sustentabilidade resultaram numa ocupação em torno de 3% a 4% maior, aluguel de 3% a 4% mais elevado e, na França, taxas de retorno de investimento de 10% pela rentabilidade do imóvel.
"Um outro aspecto a ressaltar nas vantagens competitivas é o crescimento da demanda por produtos e processos sustentáveis. Se uma empresa tem essas preocupações, certamente sairá na frente da concorrência em pouco tempo", diz Carlos Eduardo de Almeida, presidente da CTCS (Câmara Técnica de Construção Sustentável) do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável). Segundo ele, "no longo prazo, a sustentabilidade será, inclusive, determinante na sobrevivência das empresas".
Como adotar a responsabilidade empresarial?
Recentemente, a Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) lançou o Guia da Sustentabilidade, um manual básico que ajuda empresas de qualquer porte a balizar seus projetos sob os conceitos da responsabilidade socioambiental. O guia pode ser acessado por meio do endereço www.fiemg.com.br/cidadania, na seção "conhecimento empresarial".
Em geral, um programa de sustentabilidade começa na alta direção da empresa, que define esse conceito como um valor estratégico e o desdobra para a gestão corporativa e para os empreendimentos.
Danusa Nascimento, consultora em sustentabilidade corporativa do CTE (Centro de Tecnologia de Edificações), recomenda os seguintes passos para adoção da responsabilidade socioambiental:
  •  Diagnostique como a empresa está posicionada em termos de boas práticas de sustentabilidade, analisando estratégia, processos de trabalho, cultura interna e estrutura de gestão.

  •  Eleja as prioridades da empresa e elabore um plano de ação que envolva os processos corporativos e produtos com questões relativas a projetos e obras, e a aspectos ambientais de empreendimentos, de responsabilidade social, educação e sensibilização dos colaboradores.

  •  Implante o programa e não se esqueça de monitorá-lo e avaliá-lo de forma a corrigir desvios e promover ações de melhoria. Nessa fase, informe os públicos de interesse que a empresa está em um caminho sustentável.

  •  Após consolidação do escopo inicial, redefina uma nova fase, com novas prioridades mais aprimoradas, e a implante, monitorando-a e divulgando-a.
  •  Defina e implante um escopo avançado da sustentabilidade para atingir as diretrizes contidas nos referenciais de boas práticas socioambientais existentes no mercado.

Fonte: revista.construcaomercado.com.br

Um comentário:

  1. Essa reportagem mostra alguns pontos relevantes a serem analisados, como a valorização da marca que agrega grande valor a imagem das empresas, alguns projetos que ja vem incluindo a questao da sustentabilidade, como o ISE criado pela bovespa, a valorizaçaõ no mercado dos produtos vindos dos criterios socio-ambientais . A reportagem conclui-se definindo algumas maneiras de adoção da responsabilidade empresarial .

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